sexta-feira, 31 de julho de 2009

Valores na Pós-Modernidade




O texto a seguir foi extraído do Site ''Overmundo", especializado em discussões sobre Cultura e afins. Chamado também de banco da Cultura. Partilho agora as idéias a cerca dos valores na Pós-Modernidade. Deliciem-se!

The Lovers ( Os amantes)

René Magrite ( Imagem ambígua já conota como andam as relações pós-modernas)










Apresento, a seguir, trecho do livro "O Ócio Criativo", do sociólogo italiano Domênico De Masi, que defende a tese de que na sociedade pós industrial, o trabalho, o estudo, e o entretenimento podem, e vão, complementar-se formando uma dimensão única da vida humana. Neste novo modelo de sociedade, emergiriam novos valores, tais como: a "intelectualização", a "criatividade", a "flexibilização", a "emotividade", a "subjetividade". Algumas considerações dele, chamaram-me a atenção:"Na sociedade industrial foi a razão que triunfou. (...) Hoje, conquistado o que é racional, podemos voltar a valorizar sem temor também a esfera emotiva. O resultado é uma sociedade de tipo andrógino.À primeira vista, a androginia pode ser confundida com a questão da homossexualidade. Mas, não é disso que se trata. De fato, por maior que tenha sido a evolução dos costumes, ainda hoje a maioria das pessoas considera a homossexualidade um “desvio da norma” e, quando pensa em um período histórico marcado por ele, lhe vem à mente, de forma imediata, a Atenas de Péricles narrada em "O Banquete", o diálogo de Platão. O enredo é muito simples (...) Sócrates é convidado por um amigo e admirador, para um jantar mais íntimo, restrito a poucos amigos de alto nível intelectual. Quando acabam de jantar, as mulheres tiram a mesa e se retiram. Do ponto de vista sociológico, chama a atenção o fato de que, quando não se tratava de uma farra, só os homens participavam do jantar e da conversa. Os convívios festivos e as relações sexuais podiam até ser mantidos também com as mulheres, mas as discussões intelectuais só podiam se dar, exclusivamente, entre homens.Hoje, a maioria das pessoas encara a homossexualidade, no sentido estrito, como um "desvio da norma". Porém, muitos homens, sobretudo os executivos, compartilham, na prática, as teses de Sócrates e Platão quanto à inferioridade intelectual e profissional das mulheres. E assim eles defendem, tenazmente, contra a irrupção feminina, e os redutos onde elas exercem o poder. Ainda hoje, nas empresas públicas ou privadas, a ampla maioria dos papéis dirigentes é reservada aos homens...Na Atenas de Péricles, o separatismo elitista dos homens desembocava, freqüentemente, em relações sociais homossexuais. Isto também acontece hoje. Porém, a "homossexualidade" a que estou me referindo nessa circunstância consiste em posicionamento psicológico, em uma preferência, generalizada, entre os executivos, de trabalhar só com homens. E, também neste caso, se delega às mulheres que são colaboradoras o papel de assegurar, com o desempenho das funções auxiliares que executam, um tipo de “música de fundo”. Na época de Sócrates, a esfera afetiva, a vida intelectual e a guerra ocupavam o centro da pólis e, portanto, nessas esferas, os homens exercitavam o monopólio. As mulheres, com exceção das cortesãs, eram semi-analfabetas, segregadas em casa, condenadas às tarefas domésticas e ao convívio com as escravas.Um intelectual como Platão ou um político como Alcebíades, uma vez concluídas as relações sexuais, não saberiam nem mesmo o que fazer ou do que falar diante de uma mulher. Por isso, preferiam relações amorosas com outros homens, com os quais, além da relação sexual em si, podiam sentir-se em sintonia cultural ou fortalecer alianças políticas.Muitos séculos depois, a revolução industrial deslocou o centro do sistema social para os negócios: fábricas, dinheiro, mercadorias, comércio. E os homens segregaram as mulheres para fora desses centros (...). As mulheres, por sua vez, tornaram-se cúmplices dessa segregação "homossexual". Nas palavras de uma estudiosa estadunidense: "O machismo é como a hemofilia: quem padece da doença são os homens, mas quem a transmite são as mulheres". Mas, uma sociedade andrógina, não marcada por papéis hierárquicos e rígidos para homens e mulheres, pode existir por dois motivos. Agora, pela primeira vez na História, a ciência permite que as mulheres tenham filhos sem ter um marido, enquanto, para os homens, por enquanto, não é tecnicamente viável ter um filho sem ter uma mulher. Até dez mil anos atrás acreditava-se que as crianças nascessem graças somente à virtude feminina, sem qualquer intervenção geradora do homem. Hoje, aquela crença se tornou realidade, estabelecendo as bases fisiológicas para um novo matriarcado.A segunda circunstância é que hoje, como já dissemos, a sociedade pós-industrial delega as tarefas cansativas e repetitivas às máquinas, deixando aos humanos as atividades flexíveis, intuitivas e estéticas. Atividades para as quais, historicamente, as mulheres encontram-se mais bem preparadas, pelo simples fato de que os indivíduos do sexo masculino foram sempre, tradicionalmente, educados para agir de forma racional, rígida e programada. Onde se afirmam atividades que requerem flexibilidade, intuição, emotividade e senso estético - na ciência, na arte, no cinema, na moda e na mídia - aportam, pontualmente, as mulheres e debandam os homens. E é um processo tão acelerado, que legitima a hipótese de uma próxima fase de homossexualidade hegemônica: a das mulheres que se relacionam só com mulheres, porque com os homens têm bem pouco o que dizer, e bem pouco o que compartilhar.Mas, uma sociedade que inverte a hierarquia, mantendo o separatismo, ainda que com um sinal deferente, não é uma sociedade andrógina. Uma futura sociedade dominada pelas mulheres com exclusão dos homens seria tão injusto quanto a sociedade passada, dominada pelos homens, com exclusão das mulheres. Em ambos os casos, o que se perde é a riqueza da pluralidade.Por sorte, ainda temos tempo para evitar esse segundo erro, porque os homens estão perdendo a hegemonia, mas as mulheres ainda não a conquistaram. E os homens estão começando a adotar muitas das características tidas como femininas: cuidar do corpo, por exemplo, demonstrar maior ternura, cuidar mais da casa, ou perder a vergonha de chorar no cinema, diante de uma cena comovente. As mulheres, por sua vez, começam a adquirir desenvoltura na vida publica, a consciência de que têm o direito ao acesso às poltronas do poder e a justa pretensão de que também os homens participem no cuidado dos filhos. Na sociedade pós-industrial poderá, finalmente, se recompor, tanto no plano psicológico, como no comportamental, aquele tipo de androginia que Platão descreve e acerca do qual divaga em "O Banquete", que mais uma vez me agrada citar: "Antigamente, a natureza humana não era como a atual. No princípio, haviam três sexos, e não dois como agora, masculino e feminino. Havia ainda um terceiro, que participava do masculino e do feminino e que agora desapareceu, apesar de permanecer o seu nome (...)." ("O Ócio Criativo"; De Masi, Domenico; Ed. Sextante; Capítulo 8, pág. 184 a 191).

Um comentário:

  1. A NOVA ORDEM MUNDIAL, ONDE TODOS PROCURAM SOMENTE A CONTINUIDADE DO VIVER, QUE É ALGO CADA VEZ MAIS INCERTO E ANGUSTIANTE!!! QUE DEUS NOS ACUDA

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Camara de Ecos: Nasci sob um teto sossegado, Filho de Pai Árabe e uma Sertaneja Baiana, Agora entre meu ser Eo ser alheio a linha de fronteira se rompeu, A memória é uma ilha de edição, Samba: expressão das etnias negra ou mestiça do quadro da vida urbana brasileira; A quase catatonia do quase Cinema, Júbilo epifânico do Édem. Tenho os pé no chão por que sou de Sagitário.Mas a cabeça, gosto que avoe...